terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Os abusos feitos em nome da família



Passo muito tempo da minha profissão ouvindo sobre como as pessoas tiveram suas vidas arruinadas emocionalmente por conta das suas famílias. Como foram agredidas, estupradas, rechaçadas e desacreditadas por pais, avós, mães e outras pessoas tão próximas do seu convívio. E como é difícil questionar esses abusos, que se propagam diariamente, geração após geração, em casos mais extremos.

Posso afirmar que quase cem por cento das famílias tem um núcleo autoritário. Que boa parte do tempo somos submetidos à encarceramentos da alma, para obedecer e ceder em função dessa instituição. Em nome da família muitas violências ocorrem sem nenhum questionamento, afinal temos que respeitá-la cegamente desde a nossa concepção.

É confortável questionar o sistema, o chefe, a repartição ou um partido político. A coisa aperta quando o pai ou a mãe tornam nossa existência acanhada. Quando nos fazem digerir experiências tóxicas sem nos escutar e levar em consideração nossas opiniões.

Nem sempre nossos familiares saberão o que é melhor pra nós, isso será verdadeiro somente quando houver uma relação de confiança e entrega mútua. Nos outros casos, negativo. O simples fato de a pessoa ter similaridade com o seu DNA não a torna legítima para nada. Nada mesmo!  Os familiares só serão pessoas significativas para você se a relação que for tecida tiver caráter genuíno e alegrador.

Pense bem nisso, veja bem para a sua vida. Quantas vezes você sofreu em nome desse “respeito”. Qual é o preço que você paga por esse “respeito”? Vale a pena mesmo?

O amor entre pessoas da família pode acontecer ou não acontecer. Respeito devemos ter com  qualquer vivente, mas sermos lançados em experiências horríveis porque “assim é que tem que ser”, nem pensar.  Mas isso sou eu pensando, fique bem à vontade de pensar diferente.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Uma releitura do Hedonismo



Podemos definir, de forma resumida, que o hedonismo é uma corrente filosófica que defende o prazer como valor fundamental na experiência humana. Epicuro, filósofo associado a essa corrente de pensamento, foi, ao longo do tempo, muito mal interpretado, gerando uma fama extremamente negativa do hedonismo. Poucos entendem a essência dessa cosmovisão.
A filosofia hedonista afirma que a grande riqueza da vida está nos prazeres necessários e simples. Nada além disso. Ao contrário de uma sucessão de prazeres inéditos e exaustivos, como se propaga no senso comum, o hedonismo prega exatamente o oposto.
Epicuro alerta para o risco da corrupção do corpo frente aos prazeres superficiais e desnecessários, como se ocorresse assim uma deterioração inexorável dos nossos sentidos.  Quanto mais o corpo experimenta prazeres diversos, menos fruição obteria de fontes básicas de satisfação.
O hedonismo distorcido, transmitido subliminarmente nos tempos pós –modernos, aponta para uma permamente insatisfação e estado de frustração. Bem como um movimento de consumo e consumação sensorial desenfreada.
Assim como Aristóteles, Epicuro acreditava que deveríamos valorizar o que temos no instante e que quanto mais conectados com a natureza, melhor seria a nossa trajetória. Aponta para uma vida de satisfação contínua, autossustentável, pois sempre estaríamos alegres com o que nos é acessível. A simplicidade não é vista como precariedade e pobreza, é uma escolha consciente.
Ao invés de molhos e temperos complexos, satisfação com um simples pedaço de pão, seco, sem nada. Sorrir com o vento soprando na frente da sua casa, ao invés da espera por um conforto em uma viagem de apenas sete dias, dos trezentos e cinqüenta e oito restantes.
O hedonismo radical quer a nossa alegria prolongada, sem grandes expectativas, gastos e esforços. Consequentemente menos ambição e inveja em relação à materialidade mundana. 
 Uma teoria que, se bem examinada, combate ferozmente o estilo de vida atual, no qual o prazer parece sempre estar distante do agora, uma trama sem fim de esperas e faltas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Liberdade



Não existe palavra tão proferida nos dias de hoje como a palavra liberdade. Comecei a fazer uma incursão nesse tema, na perspectiva filosófica. Para o senso comum a liberdade seria a possibilidade de “fazer o que se quer”, ser livre para desejar e, por conseqüência, agir em detrimento do querer. Porém, se usarmos a lógica, podemos perceber que uma característica fundamental da liberdade seria possuir atribuição de não ser determinada por nenhum fator. Logo, a liberdade não pode estar submetida aos desejos e inclinações. Indo nessa linha de raciocínio, conclui-se que a liberdade, para se constituir como tal, não pode estar sempre alinhada com o querer.

Só podemos ser livres de fato quando temos a capacidade de decidir na contramão das nossas inclinações. Portanto, somos livres quando conseguimos fazer o que não queremos. A liberdade, nesses termos, torna-se o oposto do senso comum. Bom, isso traz incontáveis conseqüências para nossas escolhas e dilemas. A mais importante se refere ao fato de que a liberdade pode muito bem estar em desacordo com a felicidade.

Usar a prerrogativa de sermos livres pode nos conduzir para uma vida de sofrimentos e dificuldades, porque se seguirmos sempre nossos interesses não estamos sendo livres realmente. Pode-se pensar, nesse encadeamento de ideias, que é possível ter uma vida feliz e confortável, mas sem nenhuma liberdade.

O espírito da época atual prega que liberdade e alegria andam juntas. Porém é necessário uma reflexão profunda para se chegar a uma conclusão não muito agradável. Se ousarmos ser livres podemos ter mais responsabilidades, sofrimentos e angústias. Quanto mais opções se tem, mais se sofre com a escolha, porque a escolha implica no descarte da maioria das opções. Serão mais vidas não vividas do que a escolha feita. Isso não quer dizer que liberdade e felicidade não podem coincidir, mas a liberdade, para ser livre, precisa se libertar até mesmo da felicidade. 




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Só você



A maturidade nos traz incontáveis constatações. Uma das que mais vem me inquietando é a idéia de que existem coisas que só a gente pode fazer. Vamos sendo educados para sermos seriados, despidos de algo que contenha a nossa própria assinatura.  Mas o caminhar do tempo nos provoca e atormenta. Você vai tendo a impressão de que certos pensamentos, ações e decisões só vão acontecer se saírem de você.

A consciência crescente dessa realidade faz as pessoas fugirem desesperadamente dessa responsabilidade, porque sabem que iriam romper com as convenções estabelecidas, acarretando uma sensação de isolamento e desamparo inicial. Porém há uma beleza nisso, muito pouco explorada. Existe uma contribuição que será só sua, só você vai poder dar. Ir a fundo nisso pode gerar muitas surpresas potencializadoras na sua vida, sem sombra de dúvida. 

Qual será a sua contribuição? Qual o pensamento da sua autoria? Qual o seu toque próprio para as coisas? Qual detalhe nesse universo existiria a partir da sua ação? Mergulhe nessa riqueza. Não fuja dessa descoberta. Não tema. Pode ter certeza de que ela e única e intransferível, e só você.