Estamos inseridos em um meio social onde vários almejam ter destaque,
reconhecimento e admiração pelo que fazem. Não vou te dizer que também não
tenho esse anseio. Porém penso que o caminho que alguns trilham rumo a esse desejo
é doentio e conduz a pessoa inevitávelmente ao enlouquecimemento. Isso porque
as pessoas começam a se forjar a partir da opinião externa e para agradar
“aquele que não sou eu”. Poucas famílias
incentivam seus filhos para seguirem sua própria experiência, possuem fetiches
costumeiros na criação de seres únicos, que vão ser os melhores, invencíveis,
unanimidades. Muitas vezes desconectados do que sentem de fato.
Seus talentos só são válidos quando aplicados da maneira
pregada pelo poder estabelecido. Milhares mudam o que são durante o caminho,
muitos passam pela vida sem conseguir ingerir um mísero gole da sua própria
essência. Só que mudando o que somos, a nossa energia vai se enfraquecendo,
vamos perdendo o frescor da vida, vamos deixando de levar a existência com
criatividade. Aquela luz interna torna-se um brilho desenfreado e sem sentido,
que ofusca a consciência e o faz fantoche das circunstâncias. E é engraçado
ver, tão poucos se movem a partir do seu centro, a maioria circula em torno do
movimento do outro, dos outros. Poucos seguem sua intuição, fazem algo para
vibrarem internamente. Procuram sensações que no fim não terão intensidade,
perdem o vigor depois de tanta repressão criativa.
Como vislumbram o dinheiro...esquecem daquilo que lhes
provoca, lhes proporciona tesão e inspiração de fato. Nem cogitam em reverter
essa troca. Pensam que podem viver seus desejos sinceros em intervalos da
rotina que não almejaram, todavia, perseguindo burramente metas que tanto
sonham. Na verdade correm atrás de uma ilusão. Negam aquilo que está mais perto
de si, as coisas mais valiosas que não se anunciam, que permanecem silenciosas,
esperando nossa percepção para serem redescobertas.
Querem o grito, mas não aceitam a roquidão, fascinam-se com
o excesso, porém apavoram-se ao vivenciá-lo. Querem muito vivendo tão pouco,
mas um dia o “muito” chega, quem sabe...
Um dia eles serão fantásticos, viverão coisas dignas de
serem relatadas em um livro com tiragem inigualável, terão vivido e encontrado
pessoas sensacionais, com prestígio sem igual. Mostrarão que a solidão é uma fraqueza,
que é impossível ser feliz sozinho, que o outro é nossa bengala mágica. Somos
uma ilha que insiste em ser o mar que nos rodeia.
Assim se vive, negando o que nos faz viver, buscando ondas
que nos perturbam e nos dissociam, provocando afastamento inexorável da seiva
que escorre a cada minuto, e que depositamos no lixo simbólico retroalimentado
por nós mesmos.
É desse jeito que nos cultivamos, cortando as nossas raízes
e colocando adornos passageiros, que se despedem facilmente frente a qualquer
vento que seja mais forte. Com essa experiência você fica nu, mas nunca chegará
ao êxtase da transparência. Será condenado a perambular como um espelho por aí.
Acho que você chegou onde tanto queria.