segunda-feira, 16 de maio de 2016

Estóicos: a batalha entre os seus talentos e as expectativas sociais



Os estóicos, pensadores gregos, acreditavam que a felicidade (Eudaimonia) resultava de um alinhamento entre o cosmos e a vocação natural de cada um. A alegria seria um produto do encaixe das inclinações mais profundas da pessoa e a sua finalidade num todo universal ordenado. Para tanto se exigia um trabalho intenso de autoconhecimento, pois só assim seria possível descobrir quais os potenciais mais propícios para desabrochar.

Esses mesmos pensadores também argumentavam que muitas vezes a sociedade tornava-se um obstáculo terrível para que esse objetivo se concretizasse, porque nem sempre as aptidões naturais corresponderiam às necessidades sociais.
  
Pensemos na escolha de profissões e carreiras. Olhe ao redor e pergunte se as pessoas fazem aquilo que elas realmente acreditam ter talento para.

No final é melhor nem propor essa pergunta, para evitar um aumento significativo da tristeza.

Voltando aos estóicos... o método que eles aplicavam para que a pessoa insistisse nos seus potenciais era muito interessante. Expunham as pessoas diante da chacota social sistematicamente. Havia um aprendizado frequente em lidar com o olhar desaprovador da sociedade. Tudo isso porque tinham convicção de que, sem esse treinamento prévio, sucumbiriam mais adiante e deixariam de lado suas virtudes para ser algo que não são, colocando em risco todos os seus talentos mais valiosos.

Transpondo para os dias de hoje, o desafio que se coloca é pensarmos se estamos realmente ouvindo nossas habilidades ou evitando-as. E a que preço? O ponto central dessa reflexão é que se seguirmos nossas virtudes não necessariamente teremos sucesso social e aprovação do coletivo, é até mais possível que nossas escolhas sejam desencorajadas até o fim da vida:

“ Isso não dá dinheiro”

“ Isso não vai dar certo”

O primeiro passo seria uma investigação: qual é a minha? Onde me encaixo? Onde não perco o meu tempo? Onde vejo que faço sentido?

O segundo passo, tão difícil quanto o primeiro, se expressaria: vou encarar essa batalha?



sábado, 14 de maio de 2016

O risco de sermos "tão afetivos"



Historicamente, os latinos são famosos por terem intensa afetividade. Entretanto essa fama pode acarretar conseqüências desastrosas para nossas relações com o outro no cotidiano.

Existe o discurso, que se mantém vigente, de que devemos seguir nossas inclinações afetivas, “fazer o que o coração manda”.

Vamos, a duras penas, aprendendo que nossa existência é composta por situações que nem sempre estão em consonância com os nossos desejos e afetos. A tolerância, conceito chave para a vida em sociedade, expressa isso. A capacidade de respeitar qualquer pessoa, mesmo em dissonância afetiva ou cognitiva. Validar o outro mesmo que eu não goste ou discorde radicalmente.

Atualmente temos extremas dificuldades nesse aspecto. Para vivermos coletivamente esse requisito é fundamental. Boa parte das pessoas pode não me alegrar ou confirmar meus pontos de vista, mas precisamos minimamente ter em mente que a sua existência no mundo é tão válida e legítima quanto a nossa.

Não discutimos religião, sexualidade e outros assuntos complexos porque não temos ainda essa capacidade desenvolvida.

Estamos tão frágeis atualmente que ter apenas a nossa opinião não basta, precisamos eliminar ideias contrárias ou buscar freneticamente adesões. Além disso, temos pouca crítica sobre os nossos emoções e opiniões afetivas. Elas simplesmente, na maioria das vezes, são válidas apenas por serem de nossa propriedade.

Com o tempo, vamos vendo que os afetos nem sempre vão nos levar para os melhores caminhos, bem como a percepção de que nossas posições podem mudar radicalmente, dependendo da nossa disposição emocional momentânea. O afeto não pode corresponder ao conceito de verdade, pois se o afeto muda constantemente, não existe uma verdade em si, imutável e perene. Não estou de forma alguma dizendo que a emoção é irrelevante, porém acho que ela não deveria ser soberana nas nossas escolhas.

E ainda mais um desafio, num estágio superior, será que não teríamos algo a aprender com aqueles que nos contrariam ou nos afetam negativamente?


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Um tipo diferente (mas recorrente) de egoísmo



Normalmente achamos que o egosímo tem como exemplo mais comum uma pessoa extremamente centrada nos seus interesses. Entretanto existe um tipo de egoísmo mais sutil e sorrateiro, porém não menos negativo que o clássico.

Esse egoísmo é encontrado em pessoas que dedicam sua existência para alcançar um ideal, ou também aquelas que possuem uma inclinação incontrolável para “ajudar pessoas”.

O que acontece é que nesses casos a pessoa não parece egoísta, pois supostamente não está enfatizando seus interesses diretamente, entretanto a busca incessante por um ideal coloca a pessoa num estado de intensa indiferença em relação a ideais que pretensamente não dialogam com os seus.

Externamente essa pessoa é vista como solidária e generosa. O que não se percebe é que essa pessoa constrói sua vida tendo como alicerce somente as utopias que ela elegeu. Não se permite mudar de rota, nem mesmo reconsiderar suas metas e ideais. Enxerga a vida dessa maneira e ponto final. Não há espaço para negociação, o outro se torna um figurante da sua complexa trama.

Você pode perceber que esse tipo de conduta chega a ser aplaudida na sociedade, pois se considera essas pessoas dedicadas e altruístas. Mas vá conviver com elas...proponha uma visão diferente da delas e observe a sua reação.

Esse tipo de egoísmo acredita que as pessoas são um meio para se chegar a um objetivo traçado, argumentam que esse ideal é válido, pois se direciona aos outros, não as suas próprias motivações. Em suma, seu apetite parece ser mais nobre e legítimo que o dos outros.

“Quero ajudar as pessoas”

“Estou pensando no grupo”

“Quero o bem da maioria”

Vamos vendo que durante o caminho esses egoístas disfarçados acabam atropelando quem discorda deles e só conseguem produzir afetos positivos com os seus semelhantes, isso se for possível estabelecerem algum encontro com "esses iguais".

Acabam sendo tão cínicos quanto os egoístas declarados, pois não assumem que estão correndo atrás dos seus interesses próprios, usando uma embalagem socialmente mais aceitável.