sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Refletindo

Relações sempre me fazem pensar. Se eu pudesse mensurar minhas atitudes nessas relações, diria que na maioria das vezes me porto como ouvinte e conselheiro. Não é à toa que estou na profissão que estou. Porém vejo que faço isso também fora do ambiente de trabalho, acaba sendo o meu modo geral de sentir e me relacionar com o outro. Não sou daqueles que não se percebe e precisa desesperadamente do outro para enxergar-se, necessito do outro porque a alteridade sempre me desperta curiosidade e acrescenta algo na minha vida. Sinto-me confortável com quem eu sou. Claro que é uma tarefa árdua aturar-se, mas também é prazeroso descobrir seus pensamentos, saber quantas surpresas pode-se estar escondendo de si e aos poucos captá-las com alegria. Descobrir a pluralidade de cor, sons e toques que carregamos em cada pedaço de vida.

Acho que tenho a capacidade de provocar um desejo da pessoa se gostar e se procurar, como se eu encorajasse a pessoa a se ouvir, se curtir, se aceitar.

O problema desse jeito de ser é que eu acabo em vários momentos sendo vampirizado, por pessoas que precisam colocar para fora seus sentimentos, porque não encontram pessoas que as compreendam e se interessem por seus dramas. Geralmente as pessoas julgam que não tenho tantos problemas. Claro que os tenho, mas avalio que tenho poucos, comparado aos viventes que eu observo. E acho que resolvo relativamente bem os desafios que aparecem para mim.

Como qualquer ser humano eu gosto também de ter o retorno daquilo que dou e em algumas situações, geralmente no começo da ligação, me sinto frustrado de não ter a contrapartida no investimento que lancei na relação. Penso que isso acontece porque a maioria das pessoas não consegue ser compreensiva a ponto de olhar empaticamente para as questões da outra. Não posso exigir que as pessoas consigam descentrar-se e tenham a habilidade de mergulhar no mundo do outro sem sentirem-se assustadas ou contrariadas. Por isso que acabo mantendo inúmeros fragmentos de mim fora da relação, por entender que estaria falando em um dialeto incompreensível de ser decodificado naquele momento. E por acreditar que não existe ninguém melhor que eu para resolvê-los e exorcizá-los.

Sou extremamente seletivo para escolher minhas amizades, não tenho problema em confiar, tenho dúvidas mesmo a respeito da intensidade da confiança. E posso dizer que acerto em quase cem por cento das vezes. Tenho companhias extraordinárias na minha volta. Minhas relações me orgulham, pois sei que sou um pedaço de cada pessoa que confio e amo. Se você acha que sabe pouco de mim, te garanto que é porque você ainda não é capaz de me perceber e me compreender. Mas você pode ser também uma daquelas pessoas que fala tanto de si e fica tão ilhada nos seus problemas e conflitos que deve estar surpreendida ao ler esse texto.

Esse texto não é um recado para ninguém, é apenas um texto que escrevi para continuar construindo mais uma parte do meu quebra-cabeça.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Garranchos autorais de ruptura

O que é isso? Uma mistura de emoções que me impulsiona a fazer o que estou fazendo.

Não, não, não é suicídio. De certa forma é. Chega um tempo na vida em que não concordamos mais com o que está estabelecido na sociedade. Ouvimos músicas que não nos agradam, livros que não nos dizem nada, encontros que nos frustram, lugares que não nos trazem nada novo, tarefas e profissionais que perderam a alma naquilo que fazem.

Penso que muitos chegam nesse estágio. De se cansarem do filme em que atuam. A grande diferença é quando trocamos os papéis. Deixamos de ser os figurantes para assumir o papel principal. Só que quando isso acontece, muita coisa se transforma.

Você vai ganhar responsabilidades que não tinha antes, vai ter que trabalhar duro para seguir a direção que você considera adequada. Vai ser cobrado por aqueles que começam a esperar algo de você.

Para ser quem você deseja é preciso abrir mão de vaidades e carências. É vital ter autoconfiança e obstinação. Você vai deixar de ver os outros e irá começar a se encarar com mais frequência. Os defeitos dos outros agora serão os seus. Será que você, no fundo, não era igual aos outros? Será que a sua caminhada não irá dar no mesmo lugar de inúmeros ninguéns, tão angustiados e insatisfeitos como você?

Não sei te responder. Sei de uma coisa. Um sentimento grandioso infecciona o nosso peito, nos obrigando a anunciar, não para o mundo, mas para a gente mesmo que iremos nos deslocar da marcha lenta e cega da multidão. Tenho que me desprender, me perder, não sei se me libertar, mas romper. Estar fora do centro, possivelmente excêntrico.

Porém não tenho a mínima idéia de como realizar essa empreitada. Tenho consciência que a coragem para agir é a primeira coisa que devo desenvolver. Esse é o primeiro passo. O grito inicial, o desconforto primal rumo ao conforto incerto.

Não vou mais criticar o roteiro, vou sim me municiar de objetos e “subjetos” necessários para escrever, com garranchos autorais, a minha história, semi- tardia, que há minutos atrás urrava e ardia.