quinta-feira, 28 de maio de 2015

Política familiar


Ouvimos muitas vezes pessoas queixando-se da sua família. Se o assunto central das terapias envolve desconfortos com a família, por que será que ninguém se insurge contra esse tipo de estrutura emocional e social? Por que ninguém busca oxigenar as relações familiares e reformular os vínculos sociais? Tornar os laços familiares mais frouxos e menos absolutos? Por que pensamos na família apenas quando ela explode para toda a vizinhança? Por que a família não é motivo de teorias e intervenções políticas?

A criação familiar, centrada em pouquíssimas pessoas para se amar, reproduz eternamente a noção de que intimidade é algo para poucos, ou quase ninguém. As conseqüências já são sabidas e vivenciadas. Temos medo de nos entregar, de conhecer os outros, de forma verdadeira e amorosa. Amar é algo que nos dá medo, só esquecemos onde esse medo foi ensinado e reforçado.

Amar mais de uma pessoa não é possível na sociedade ocidental.  O amor tem que ser único e eterno,  geralmente direcionado para uma só pessoa. Porém os conflitos e sofrimentos existenciais nos indicam que não parece ser assim que sentimos de fato.

Ao invés de assumirmos que as relações são menos óbvias e lineares quanto queremos aparentar, reproduzimos diariamente falas e atos que nos aprisionam e limitam emocionalmente. A visão ainda reinante de família afeta negativamente nossa forma de existir.  Não sabemos muito bem quando foi que começamos a pensar que os “lá de fora são perigosos”. Perigosa é a sociedade que enfatiza tanto a família, “o nosso lar”, o valor a quem é “sangue do nosso sangue”. Pensar que os laços vão além do biológico é um prenúncio de uma sociedade menos preconceituosa e autoritária.

É importante perceber que essa “intimidade única” propagada na família é o passo seminal para os autoritarismos futuros. Onde será que as pessoas aprendem a dominar e chantagear umas as outras? Temos a noção retrógrada de que a família é intocável. Que as coisas que pai, mãe e filho fazem não podem ser colocadas nunca em questão. A miséria de muitas pessoas reside nessa crença, na qual o poder ainda é exercido de maneira indiscriminada. “Mãe é mãe, tem que respeitar”, independente o quão carrasca ela seja. A célula de submissão está aí. Muitos querem ser pais não para criar e deixar o filho viver, e sim para poderem exercer o poder a qual foram submetidos durante a infância.

Por outro lado uma criação que seja horizontal e despreendida pode sim formar pessoas menos subservientes ao sistema. E essa maneira de educar e se relacionar está longe de não ser afetiva. Esse é outro engano muito comum, muitas vezes usado a exaustão nos relacionamentos: “eu te amo, por isso você precisa acatar o que eu quero, você precisa obedecer quem te quer tão bem”. E mais adiante não irá ter terapia ou sociedade que seja saudável. A chave que explica o motivo de poucos se rebelarem reside no fato de que não percebemos que estamos submissos, em grande parte, emocionalmente ao sistema.  Racionalmente já teríamos nos libertado das injustiças cometidas a nós.    

É nesse ponto que eu acredito que a política formal naufraga como ação de emancipação. Queremos questionar os deputados, senadores e outros mandantes eleitos. Mas estamos encalacrados até o pescoço com os autoritarismos vividos nas nossas relações afetivas. Dessa forma nossa libertação é apenas uma idéia, nunca uma prática.

Dizer não ao governo é relativamente fácil nos dias de hoje, agora seguir um caminho próprio e autêntico, independente do que sua família e amigos vão dizer é que são elas. Não adianta gritar por liberdade nas ruas da cidade e exercer tiranias dentro de casa, na cama, na cozinha e no trabalho. Ciúmes, brigas e repetidas discussões de casal e família.

Para mim é líquido e certo que a verdadeira revolução começará a partir das microrrelações, de um ponto onde poucos acreditam ser a gênese da transformação social.  E de fato desacredito em qualquer organização política e social que não enfrente ferozmente esses temas abordados nesse texto.

O poder só se quebra a partir da adoção de postura amorosas e libertárias em cada momento vivido.  Primeiro isso, depois o resto virá, sem dúvida.

 

 

 

sábado, 16 de maio de 2015

Estratégias existenciais


Momentos da existência

Onde é preciso

Suprimir e simultaneamente

Sustentar

Sua essência

 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Política vital I


Ouvindo as pessoas em suas opiniões sobre política percebo o quanto existe uma face totalmente obscura e não esclarecida desse fenômeno. Quem sabe não abordada justamente por se temer o impacto que ela teria no nosso meio.

Política é algo maçante, chato e horrível para a maioria dos brasileiros. É algo que não traz prazer nenhum para ninguém. Mas por que esse sentimento tão comum? Tenho um palpite.

Creio que a política foi retirada do seu palco principal: a nossa experiência cotidiana.

Não pensamos que a política se faz através das nossas atitudes pessoais e/ou emocionais. Para inúmeros isso não é política. Cada dia convenço-me do contrário. A política autêntica só pode emergir através de uma revolução autoral do ser. Isso quer dizer, uma renovação emocional, corporal e relacional de cada um de nós.  

A revolução só pode ser feita a partir das nossas ações. A concepção reinante prega o reverso: vamos escolher alguém para fazer por nós, a democracia representativa. Quer dizer que a verdadeira política deixa a maioria das pessoas de fora das discussões e ações importantes?

Quando começa a revolução? Quando reinvento meu modo de ser e estar com os mais próximos. Se pensarmos na profundidade dessas atitudes certamente ficaríamos aterrorizados, porque isso implicaria em grandes riscos.

Porque isso significaria questionar e não seguir estritamente a família, amigos e instituições com as quais nos vinculamos.  Fazer coisas que rompem, às vezes de maneira drástica, com as expectativas fomentadas durante a nossa trajetória por pessoas fundamentais na nossa vida.