terça-feira, 22 de setembro de 2015

Ser transportado


Trem descarrilado

Ônibus lotado

Máquina sem combustível

 

Corpo extenuado

Sonho despedaçado

Passageiro invisível

 

Sentado no assento

Fervilhando pensamentos

Num trajeto inatingível

 

Ouvindo uma canção

Digerindo a frustração

Desse cotidiano possível

 

Em cada parada, calado

Esse irônico ser nada... transportado

 

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Atenção!


Podemos dizer que a atenção, em termos gerais, é uma capacidade fundamental para desenvolvermos tarefas do nosso cotidiano de maneira satisfatória.

Porém uma relação pouco estabelecida é entre a atenção e a felicidade. Essa conexão não aparece geralmente, acredito eu, por estar situada de maneira muito sutil na nossa experiência.

Pense em momentos relevantes de sua vida. Você viveu -os de corpo inteiro, sem contar as horas para aquele instante acabar. O grau de atenção está intimamente ligado ao nível de interesse que está se investindo naquele momento. Quanto mais sentido extraímos do vivenciado, mais atenção empregamos no aqui e agora. O contrário também é verdadeiro.

Quando algo não me afeta, não me desperta o interesse, automaticamente não presto atenção. E quanto menos atenção, maior a chance de eu não estar gostando do que estou vivendo naquela hora.

Digo isso para lançar uma hipótese sobre o nosso contexto atual. Creio que existe uma tendência social intensa buscando fragilizar nossa capacidade de atenção, e, por conseqüência, nosso potencial de ter experiências alegres. O enunciado desse tempo é: “quanto mais coisas faço simultaneamente, mais adaptado estou para enfrentar o mundo tecnológico que se apresenta”.  Entretanto, os prejuízos advindos dessa exigência são marcantes.

Estamos desaprendendo a prestar atenção de maneira integral e a conseqüência óbvia é que nos tornamos cada vez mais desgostosos com aquilo que estamos fazendo e sentindo.

Estar atento significa, antes de tudo, priorizar. Priorizar implica em efetuar escolhas. E fazer escolhas nos causa considerável angústia, pois, ao optar por algo, passo a me responsabilizar por sucessos e desventuras que possam ocorrer no caminho que decidi trilhar. Porém se eu não escolho acabado tirando o brilho da minha experiência, mergulho na “piscina da vida” apenas colocando a ponta dos pés.

Prestar atenção em muitas coisas traz como conseqüência um envolvimento parcial, fico com a impressão de que quase nada me transforma de fato. Daí a freqüente sensação de vazio existencial, geradora de tantos sofrimentos para as pessoas nos dias de hoje.

E para lidarmos com esse vazio usamos como estratégia ficar mais dispersos e divididos. Internet, televisão, rádio, celular, vídeo, tudo ao mesmo tempo. As gerações que estão chegando parecem não saber se entregar por inteiro ao presente, sem perceber que a chave de uma vida vibrante e intensa está em vivenciar radicalmente o momento. Pois é só ele que existe.

Ler apenas o livro, trabalhar somente, escutar ou fazer uma refeição com atenção plena, degustar e se arrepender pelo momento que optou viver deliberamente. Não é à toa que o déficit de atenção e a depressão sejam patologias tão em voga na atualidade. Estão de mãos dadas praticamente, diria eu.

A conclusão que podemos chegar é óbvia: “melhor uma tristeza inteira do que uma alegria fracionada, minguada, esquálida”.

Não digo isso de nenhuma forma me excluindo, justamente escrevo esse texto para poder tentar mergulhar e transcender esse mundo que diariamente tenta me tirar a potência e me oferece subterfúgios infinitos para desvalorizar o meu aqui e agora incessantemente. Estou tentando não embarcar nessa.

 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O melhor é o que há por vir...


O melhor é o que há por vir

A vida não vale em si

Estamos em uma preparação

Que ignora o existir

 

Futuro e passado

Como formas de sentir

Se o momento é vazio

O motivo nunca esteve aqui

 

A fuga do presente

Eterno adiamento

Ideal inatingível

Como rota de padecimento

 

A mente e suas distrações

Para evitar o encontro

Nada é agora

Apenas transitando

Temporariamente

Em um corpo...morto

 

Sinceramente?

Acho pouco...