segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Política!

Política é um tópico que me deixa inquieto e irritado demais (política, nessa crítica, no sentido de busca de poder passando por cima do outro... leiam até no final porque tento pensar em algum outro sentido para essa palavra ).
Isso porque as pessoas se dividem esquizofrênicamente em dois lados, inconciliáveis. Há exceções, sem dúvida. Os perdidos, confusos ou moderados, talvez se identifiquem comigo nas elucubrações. Não sei por qual começar, de tanta antipatia que desenvolvo por ambos os lados.
Vamos aos engajados politicamente então. Chatos e cegos. Faço esse relato pela observação de muitos grupos, sendo que algumas vezes fui convidado a participar deles. Existem muitos sentimentos negativos nessas associações políticas. Primeiro: a segregação do outro. Quem não veste a minha camisa e não carrega a minha bandeira é o mal personificado em carne e sigla. Quem não está comigo nessa luta que se dane, bando de alienados que não estão como cordeiros ao meu lado. Uma bela maneira de buscar a igualdade social, (se é que de fato seja isso o almejado) fazendo com que haja uma diferenciação extrema entre os grupos que estão posicionados na luta "democrática". Morte àquele que não é eu!
As reuniões são tensas, carregadas de mágoa e ressentimento. A descontração é como flor no asfalto, rara. A estratégias mais usadas não envolvem autocrítica e a promoção de idéias próprias. Ao contrário, são calcadas na desvalorização dos adversários e na expurgação alheia. Na minha opinião o pior defeito dos grupos denominados políticos é não abrir espaço para a alegria, o prazer e a espontaneidade. Eles ficariam surpresos ao descobrir que esses elementos são os mais poderosos na transformação da velha estrutura social. Outra coisa desconfortável é a exigência de que a dedicação à causa seja onipresente e inflexível. A nossa vida pode sim incluir a militância, mas restringir-se somente à ela é imaturidade ao meu ver.
Defender ideais e buscar a adesão das outras pessoas requer habilidade. A intenção pode ser ótima, no entanto a apresentação seca e desprovida de sensibilidade não (co) move nem mesmo a própria pessoa que postula esse ideal.
Outro aspecto é a criatividade nas propostas. É muito difícil ouvir ideias que sejam inovadoras e que incluam a maioria das pessoas na sua execução. Propostas que almejam participação popular são difíceis de serem pensadas, por isso são escassas. O planejamento e a execução de uma proposta política geralmente diz respeito a um grupo muito pequeno de pessoas.
Poucos comandam os caminhos da política. Uns por incapacidade de conclamar o interesse coletivo e outros por puro interesse e safadeza mesmo. Fica uma pergunta: Quem disse que as mudanças sociais só podem ser feitas com sisudez, rabugice e violência? Será que existe uma maneira menos azeda de provocar uma transformação no nosso cotidiano?

O segundo grupo é produto da ação do primeiro. São os desinteressados. Aqueles que pensam que política é um assunto chato, que não se julgam envolvidos no que acontece na sociedade. Os que acham que política é um grupo de ressentidos que tentam adquirir mais poder sucessivamente. Outros que acham que espiritualidade , política e bem estar pessoal são temas inconciliáveis. Seres que assistem o mundo desabar e não fazem nada a respeito. Seja pelo meio ambiente, seja pensando, seja escrevendo, seja gritando, seja sofrendo. Insensíveis a respeito do que acontece fora de suas casas.
Amo minha família, mas não busco melhorias apenas para eles, afinal o mundo não é habitado somente pelos meus ascendentes e descendentes. Mas, infelizmente, com a crescente avalanche do totalitarismo narcísico, (todos vivendo egoísticamente as regras do mercado de consumo) a política é apenas mais um instrumento para o lucro e o poder próprio. Pode-se se dizer que sempre foi assim. De repente os tempos atuais sejam simplesmente mais explícitos e escarrados, vai saber...
A questão é complexa, inicia no próprio conceito do que possa significar política. Para mim política é algo que eu faço em causa própria, que reverbera positivamente nos outros ou então algo bom feito diretamente para o outro e que, dialéticamente, acaba me influenciando benéficamente. Um pouco confuso, mas se parar para pensar é possível encontrar alguma fagulha nessa idéia.
Partindo disso, política envolve quase tudo que se faz na vida. Um esforço contínuo de ser uma pessoa melhor e tentar tornar o mundo melhor por tabela. Se acontece uma relação espontânea de pessoas em busca dessa melhoria, ótimo, porém se for um caminho solitário não tem problema. Até porque ninguém está sozinho nesse mundo, embora muitos se sintam assim.
Captei! No bater do gongo: política é perceber que não se está sozinho na rua, no ônibus, na fila do banco, no universo. Fácil, né? Complicado é agir.