terça-feira, 27 de abril de 2010

Morrer para ter trabalho ou trabalhar morrendo, eis o impasse!

Quando se fala de trabalho, levando em conta a conjuntura do nosso país, um número significativo da população evoca palavras que traduzem fidedignamente os sentimentos e percepções em relação a esse tema: correria, esforço, batalha, suor, etc. Não é nada fácil conseguir emprego no Brasil. A crescente competição e a falta de cargos disponíveis fazem com que os sujeitos travem um embate quase sangrento em busca de um simples cargo, que os faça sobreviverem financeiramente, uma subsistência, uma sub-existência. Os profissionais autônomos também penam, com o excesso de oferta de serviços e a escassez da procura. São muitos profissionais para poucos interessados. Esse é o primeiro estágio, então, conseguir trabalhar.

(Nem preciso citar o desespero de estar estagiário. Trabalhar mais que todos e receber menos que todos. Se recebem algo...)

Supõe-se que muitas pessoas param nesse ponto. Conseguir algo. Veja o número de desempregados à sua volta, é bem provável que muitos sofrimentos podem ser explicados pela influência desse fenômeno: depressão, drogas, violência, relações conflituosas, etc.
Vamos pensar além. As pessoas que estão trabalhando e são remuneradas. Elas trabalham naquilo que gostam? Sentem-se realizadas em suas rotinas? Prestam serviços aos outros com motivação e alegria? Observe e comprove. A maioria, não todos, trabalha como se apenas o corpo estivesse presente, a alma parece ter desaparecido há um bom tempo. Entram no local de trabalho esperando que o horário de expediente já acabe. Que a tortura acabe logo! Quem exerce seu ofício desse jeito pode pensar que a sucursal do inferno tem um tempo demarcado em suas agendas: 8 horas diárias e 44 horas semanais.A energia vai se esvaindo gradualmente. Em tarefas mal feitas, discussões com colegas- que também estão insatisfeitos- fugas do trabalho, desculpas esfarrapadas, atestados médicos, doenças, estress, crescente irritação e agressividade.
Quer dizer que quem tem trabalho está mal e quem está trabalhando pode estar até pior?
Morrer para ter trabalho ou trabalhar morrendo, eis a questão. Será que podemos superar esse impasse terrível?

Uma das soluções possíveis, na verdade, é extremamente contraditória. Ser escravo para tornar-se livre. Você quer fazer o que gosta, aquilo que pensa ter vocação e habilidade inata. Pois bem, é muito provável que você tenha dificuldades para exercer essa profissão com estabilidade financeira. Nesse mundo de competição, você terá que ser o melhor ou um dos melhores naquilo que faz. Para isso você terá que ser escravo do trabalho para depois se libertar dele, mais adiante. Terás que respirar cursos, estudos, qualificações, capacitações, provas, concursos, supervisões e consultorias. Há sofrimento nisso? Sem sombra de dúvida, há.
Mas lembre-se que é isso ou as duas primeiras opções anteriormente citadas. Também vale ressaltar que essa ação é pensada a longuíssimo prazo. Muitos desistem no caminho e acabam trabalhando apenas para se sustentar, e deu! Os corajosos que tentam esse terceiro caminho sofrem muito, por não verem o horizonte que se constrói logo adiante. Sofrem como todos, mas possuem um brilho que os diferencia da média: exercem seu trabalho com prazer, com paixão. Chegam em casa extenuados, mas com um senso de dever cumprido. Pode ser que isso não baste, mas parece ser mais atraente que chegar de uma atividade que não faz o menor sentido.
Há também outra alternativa, para não dizerem que não penso em outras possibilidades. O trabalho paralelo é muito adotado por aqui. Artista que é engenheiro, psicólogo que é administrador, escritor que é médico (conhecem alguém famoso nessa condição?). É uma saída, desde que não se deixe o verdadeiro ofício morrer, pelo acúmulo de tarefas oriundas da profissão ganha pão.
É claro que existem riscos nesses caminhos alternativos. A pessoa trabalha tanto naquilo que gosta que deixa de ter prazer com aquela atividade. Também há o perigo do conforto. O trabalho desprazeroso proporciona tanta estabilidade e prazer financeiro que o trabalho vocacional fica em segundo plano, amortecido. A pessoa possui tanta insegurança que não consegue se desfazer do conforto para lançar-se em uma atividade mais apaixonada e profunda. Não há um caminho exato a ser trilhado. De repente existam outros, ainda não descobertos. É, são tortuosidades dessa estrada, chamada trabalho.