terça-feira, 15 de junho de 2010

Assumir a materialidade - parte 2- Grana ( $)

Vamos tratar de grana. Money. Bufunfa. Cascalho. Pense com carinho nesses questionamentos: você fica incomodado quando perguntam quanto você ganha pelo seu trabalho? Fica envergonhado ao cobrar pelos seus serviços?
Na elucubração, oriunda das perguntas formuladas acima, pode-se chegar à conclusão de que lidar com dinheiro é tão constrangedor quanto apropriar-se da sexualidade e do corpo. Como estou no Brasil, posso encontrar uma explicaçã plausível para nossa vergonha com o dinheiro. Viver em um país onde existem pessoas que não conseguem dinheiro, nem para comer, certamente nos gera grande culpa, no gasto de cada centavo que se ganha diariamente.

“Não acho dinheiro importante”. “Não sou apegado aos valores materiais”. Quem afirma isso passa a impressão de que a matéria não possui relevância alguma para uma vida boa. Bom, não se pode superestimar, porém, diminuir a centralidade da matéria é negar o próprio pulsar da vida. Quando buscamos a espiritualidade, o caminho mais trivial exclui o dinheiro terminantemente dessa jornada. O dinheiro nos deixa sujos, espírito e matéria não se coadunam no senso comum (em outros sensos também). Quem possui muito dinheiro geralmente é alvo de certas afirmações: “Ele tem dinheiro, mas não é feliz”. “Tem dinheiro, mas não dá valor às coisas simples, à natureza.” Pode até ser o caso, algumas vezes, mas generalizar sempre é arriscado.
Foi lendo e refletindo sobre as mensgens de Osho que percebi como poderia encarar esse duelo material x espiritual de uma forma mais produtiva. Ele faz uma analogia, usando, como exemplo, a subida de uma escada, soando, nessa ideia, extremamente infantil (positivamente) e simples. Como chegar no andar mais alto da escada ( espiritualidade) sem começar pelo mais baixo (materialidade)? A materialidade é fundamental no caminho espiritual, por mais contraditório que isso possa parecer. Se as coisas existem, por que não desfrutar? Quem sabe viver a esfera concreta da realidade, visando um patamar mais elevado da existência? O momento em que as possibilidades materiais se esgotam, anuncia-se o nascimento de uma nova etapa. Na medida em que você já comeu tudo o que havia pra comer, consumiu o que havia de ser consumido e teve todas as experiências sensoriais possíveis, um grande vazio irá surgir. Pode-se argumentar que no mundo capitalista esgotar essas possibilidades é impossível, mas é líquido e certo que o ser humano possui um limite em aproveitar a materialidade. Assim como uma criança se entedia com os brinquedos que vai adquirindo, o ser humano maduro também não consegue satisfazer-se totalmente usufruindo apenas do aspecto sensorial. É por isso que o pensador argumenta que é praticamente impossível pensar em elevação do espírito com a barriga roncando. Como pensar em algo além do soma, se ele está incompleto? Usando a (bio) lógica desenvolvida aqui, chega-se a consideração de que os espiritualistas, que buscam abolir o mundo sensorial da experiência transcendental, estão indo para a direção contrária. Quanto mais se nega, mais aparece e grita. Se quero me livrar do sexo, vou usar minhas energias vitais e mentais para me livrar do sexo, e não para alcançar a espiritualidade. Com relação à comida é a mesma coisa. Se evito, não me livro. Só é possível superar algo mergulhando profundamente naquilo, desviando eu só postergo o desafio.

E o que falar das pessoas que tem dinheiro sobrando e não gastam? Não recrimino as pessoas econômicas, porém não consigo deixar de ter pena de quem ganha dinheiro e não o usa. Pessoas que ganham 5 mil reais por mês e não dão gorjeta de 2 reais para o garçom. Seres humanos que freiam a vida. Freiam a si mesmos. Dinheiro é prazer e bem estar. Seja o nosso ou do próximo. Não proporcionar essa alegria é estar morto, permanecer grudado rente ao solo. A morte chega logo, não se engane. De que adianta ir para a estação e não embarcar em nenhum vagão do trem? Não tenho raiva desses tipos. Meu sentimento é pesaroso, ao ver pessoas que podem ser mais felizes, mas escolhem não ser.

O mundo é capitalista, cão. A competição é selvagem. Ganhar dinheiro no Brasil, para a maioria, é um sufoco. Então vamos tratar de aplicar nosso dinheiro suado de forma sábia e alegre, com o mínimo de culpa possível. Isso não é uma ode ao consumismo. No fundo é até o contrário. Se tratarmos a grana com naturalidade, ela vai perdendo a qualidade mitológica e assustadora que muitas vezes aparenta ter para maioria .