Podemos dizer que a atenção, em termos gerais, é uma
capacidade fundamental para desenvolvermos tarefas do nosso cotidiano de
maneira satisfatória.
Porém uma relação pouco estabelecida é entre a atenção e a felicidade.
Essa conexão não aparece geralmente, acredito eu, por estar situada de maneira
muito sutil na nossa experiência.
Pense em momentos relevantes de sua vida. Você viveu -os de
corpo inteiro, sem contar as horas para aquele instante acabar. O grau de
atenção está intimamente ligado ao nível de interesse que está se investindo
naquele momento. Quanto mais sentido extraímos do vivenciado, mais atenção
empregamos no aqui e agora. O contrário também é verdadeiro.
Quando algo não me afeta, não me desperta o interesse,
automaticamente não presto atenção. E quanto menos atenção, maior a chance de
eu não estar gostando do que estou vivendo naquela hora.
Digo isso para lançar uma hipótese sobre o nosso contexto
atual. Creio que existe uma tendência social intensa buscando fragilizar nossa
capacidade de atenção, e, por conseqüência, nosso potencial de ter experiências
alegres. O enunciado desse tempo é: “quanto mais coisas faço simultaneamente,
mais adaptado estou para enfrentar o mundo tecnológico que se apresenta”. Entretanto, os prejuízos advindos dessa
exigência são marcantes.
Estamos desaprendendo a prestar atenção de maneira integral
e a conseqüência óbvia é que nos tornamos cada vez mais desgostosos com aquilo
que estamos fazendo e sentindo.
Estar atento significa, antes de tudo, priorizar. Priorizar
implica em efetuar escolhas. E fazer escolhas nos causa considerável angústia,
pois, ao optar por algo, passo a me responsabilizar por sucessos e desventuras
que possam ocorrer no caminho que decidi trilhar. Porém se eu não escolho
acabado tirando o brilho da minha experiência, mergulho na “piscina da vida”
apenas colocando a ponta dos pés.
Prestar atenção em muitas coisas traz como conseqüência um
envolvimento parcial, fico com a impressão de que quase nada me transforma de
fato. Daí a freqüente sensação de vazio existencial, geradora de tantos
sofrimentos para as pessoas nos dias de hoje.
E para lidarmos com esse vazio usamos como estratégia ficar mais
dispersos e divididos. Internet, televisão, rádio, celular, vídeo, tudo ao
mesmo tempo. As gerações que estão chegando parecem não saber se entregar por
inteiro ao presente, sem perceber que a chave de uma vida vibrante e intensa
está em vivenciar radicalmente o momento. Pois é só ele que existe.
Ler apenas o livro, trabalhar somente, escutar ou fazer uma
refeição com atenção plena, degustar e se arrepender pelo momento que optou
viver deliberamente. Não é à toa que o déficit de atenção e a depressão sejam
patologias tão em voga na atualidade. Estão de mãos dadas praticamente, diria
eu.
A conclusão que podemos chegar é óbvia: “melhor uma tristeza
inteira do que uma alegria fracionada, minguada, esquálida”.
Não digo isso de nenhuma forma me excluindo, justamente
escrevo esse texto para poder tentar mergulhar e transcender esse mundo que
diariamente tenta me tirar a potência e me oferece subterfúgios infinitos para
desvalorizar o meu aqui e agora incessantemente. Estou tentando não embarcar
nessa.