sexta-feira, 17 de abril de 2015

Repressão transcendental 2- desconexão e individualismo


A repressão transcendental gerou, principalmente no ocidente, um fenômeno muito curioso: religiões que não almejam o religar, a busca por algo inefável, e sim doutrinas que pregam a desconexão do sujeito com o todo. Religiões que incentivam o triunfo dos vencedores perante os de “pouca fé”.  Crenças intolerantes com os desviantes.

A ausência da espiritualidade se reflete na nossa organização social: altamente belicosa, desconfiada do outro e desprovida de empatia. Na medida em que as pessoas não são incentivadas a se conhecerem melhor, reina o mecanismo da projeção dos sentimentos, o errado é sempre alguém que não eu.

Nosso caldo cultural torna-nos inexoravelmente inconscientes de nossos desejos e intenções. Vivemos temendo os nossos sentimentos, que por não serem aceitos e compreendidos, viram desajustes emocionais, tornando nossas relações interpessoais um desastre anunciado.

A busca espiritual não nos salva totalmente do caos em que estamos imersos. Não mesmo.  Mas o desenvolvimento de uma caminhada interna torna-nos mais empáticos com o outro e com uma melhor relação com o coletivo e com a natureza. Vamos adquirindo a noção de que estamos interligados com o universo de uma forma inexorável. As relações vão apontando pedaços do nosso quebra cabeça afetivo e espiritual. Vamos descobrindo que afetamos o nosso contexto de maneira contundente, tanto pro bem como pro mal, aumentando nossa responsabilidade e liberdade.

Espiritualidade é um fenômeno que pode muito bem pertencer à esfera do cotidiano. Não como uma ilusão que nos aliena, mas como uma busca por sermos melhores a cada dia e diminuir o sofrimento que nos marca diariamente. Não se limitar ao nosso cotidiano, buscar respostas para além do que vivemos conscientemente. Chegar à conclusão de que somos únicos e por isso mesmo nossa contribuição é fundamental para o todo. Quando percebemos que somos parte de um todo, identificamos nesse todo coisas nossas também. Percebemos que a maldade não pertence só ao outro, assim como a conclusão de que a bondade não é uma qualidade exclusivamente nossa. Olhamos nossa vida de forma mais humilde e as relações tornam-se mais fraternas, pois vou deixando de temer o desconhecido que o outro me traz a cada momento.  

Acessar uma dimensão transcendental acentua nossa racionalidade, porque conseguimos perceber que a razão possui um limite e que negar esse fato pode se tornar extremamente danoso para a nossa sanidade.

Enxergamos nossas limitações com mais clareza, tendo assim muito mais possibilidade de superá-las. Em algum momento da nossa existência perguntamos se o que vivemos faz sentido. A espiritualidade não nos dá essa resposta, mas através do autoconhecimento ficamos fortalecidos para lidar com as nossas fragilidades e incompletudes. A dor vira entendimento, e isso faz toda diferença. Para mim e para o universo.

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