sábado, 23 de janeiro de 2010

Outras direções ( relacionamento)

Acabar um relacionamento, seja ele de que natureza for, com um sorriso otimista só me foi possibilitado pelo advento da maturidade. É claro que um término não é motivo para fogos de artifício e cânticos de torcida apaixonados, porém também não é o passaporte para o inferno, como muitos interpretam.
As ligações não dão errado, apenas egostam suas possibilidades. É importante entender que tudo na vida tem um ciclo, nossa própria existência é prova cabal disso. Por que não seria assim nas relações? As pessoas que cruzam nosso caminho nos trazem mensagens, ensinamentos sobre o mundo e sobre nós mesmos. E a permanência da pessoa na nossa vida, de acordo com a minha opinião, só se mantém quando ainda temos algo a aprender e experiênciar através do contato.
Negar que certos relacionamentos estão com sua validade vencida é nocivo para nós e para quem se relaciona com a gente. Ficamos presos a algo que não possui mais a fluidez de antigamente e deixamos a outra pessoa estagnada, causando constantes desentendimentos e aborrecimentos mútuos. Para se admitir isso é preciso ter culhão, decretar o fim de algo nunca é agradável no momento, o alívio só chega tempos depois da coisa feita.
Penso que mais doloroso é dourar a pílula, ficar fingindo que é possível continuar quando na verdade estamos perdendo nossa energia vital a cada segundo que continuamos a conviver com quem não queremos mais. Não existem pessoas erradas, existem pessoas erradas para nós, seres que não se encaixam com nós naquele momento. E não saber isso traz conseqüências severas para nossa felicidade, isso porque deixamos de conhecer outras modalidades de encontro mais criativas e também porque privamos o outro dessa ter essa chance também. Parabéns! Você, com seu apego e medo de arriscar em busca de algo melhor, deixa duas vidas amortecidas e sedadas. Ambos na UTI, precisando apenas da força de vontade para saírem dessa situação. A sabedoria popular e a observação comprovam que preferimos ser infelizes com segurança do que inseguros tendo a perspectiva de obter alegria.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Saber: prazer e saber simultâneo

Saber é prazer e sofrimento ao mesmo tempo. Como é bom descobrir potencialidades, adquirir consciência de que os sofrimentos são contornáveis e de que nada é tão determinante assim nessa vida. Por outro lado é um tormento saber que existem lacunas gritantes que nunca serão preenchidas, expectativas que nunca serão alcançadas, planos que só serão planos. Geralmente o saber implica também em querer passar esse saber adiante, dividir, tanto os conhecimentos bons quanto os maus. Os bons para melhorarmos o mundo, os ruins para amenizar a impotência diante dos fatos. Falo conhecimento mau me referindo a consciência de que existem aspectos negativos na nossa vida.
Muitos acabam enfraquecendo no caminho, pelo peso do conhecimento que adquirem, e buscam então não saberem mais, alienam-se, desligam o botão da consciência. Decidem viver a vida evitando descobertas, querem apenas o gosto do conhecido e do trivial. Ficam mais fixados no pólo maléfico do conhecer, afirmam que nossa consciência é um punhal que despedaça o coração vagarosamente. Como ser feliz sabendo da violência do mundo? Da pobreza do universo ? Da fragilidade do ser? Eu perguntaria: como ser feliz não sabendo de tudo isso?
Realmente não é fácil, vários sucumbem, não agüentam o fardo de saber. É por isso que pessoas diferenciadas são raras no planeta. Boa parte dos sujeitos descobrem algo e se tornam aterrotizados pelo conhecimento, escravo de seus pensamentos. Sua ação paraliza, por tudo aquilo que se acumulou. Escassos são aqueles que, ao tomar consciência, buscam agir, seja da forma que for, mas lutam corajosamente para mudar algo ou, quem sabe, para melhorar uma situação.
Há que se ter o cuidado para não ser um teórico da vida, pensar que o que já se sabe basta. Sempre terão novas situações para balançar nossos valores e crenças. Por isso quem tem medo do saber não está aplicando criativamente o que aprendeu.
Não se canse de saber, descobrir algo é uma dádiva. Embora seja doloroso em diversas situações, a ignorância é certamente mais letal, corroendo a mente e a alma dos corações desavisados. Quando se descobre algo e existe um desejo de superar aquilo que o conhecimento despertou de sofrido, a vida se torna maia rica e nos sentimos mais confiantes para adentrar no universo de corpo inteiro. Pobre daqueles que não querem aprender, e mais lamentável ainda os que sabem que podem descobrir muito mais porém hesitam por temor ou acomodação.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A dança do acasalamento- parte final

Quando se está apaixonado e o seu alvo não percebe isso, a cabeça do apaixonado começa a girar em torno de como e quando esse sentimento deve ser anunciado. Com a escassez de tempo da época contemporânea, fica cada vez mais difícil encontrar uma brecha romântica para desovar os afetos guardados.
Imagine só, você chega de manhã, a pessoa lhe cumprimenta e você, sutilmente:
- Você é tudo pra mim! (tom apaixonado)
A amada, que nem acordou ainda, responde:
- O que foi? Tô com sono. Nem ouvi direito o que tu falaste.
- Falei que hoje ta bem abafado, calor do cão... (depois da resposta dela não deixa de ser verdade essa frase).
Ou então no almoço, enquanto comem aquele xis gordurento, você lá pelas tantas:
- Tu estás linda! Ela, ainda mastigando o monstro alimentar, diz:
- Tu sabe que hoje eu estou me achando uma baranga gorda?
Bééé! Tente outra vez!
Na aula ou no trabalho é melhor ainda. Ela está em apuros e pede cola, logo a ideia surge e você escreve no papel:
- A resposta é que estou vidrado em você. Ela devolve o papel, incisiva:
- Deixa de ser engraçadinho e me dá logo a resposta.
Vocês estão se despedindo de um dia duro e cansativo, a última chance é agora:
- Hum, ô guria , tá afim de sair qualquer dia desses?
Antes da resposta toca o telefone, ela atende com toda calma, é a amiga de longa data:
- E aí sua cadela! Que saudade de ti, blá, blá, blá...
Nesse momento o cara se sente tão ansioso, mas tão ansioso, que se sente como se estivesse esperando Deus dar o sinal positivo para sua entrada triunfante no céu.
Ele, com a cabeça virada e muito indignado, espera o diálogo vital para a o seu mundo, dando aquele riso estilo “quero te enganar, sua fazida, mas estou tendo que engolir tudo isso que estou pensando nesse momento”.
Ela desliga o telefone, fala que está atrasada e tem que ir. Ele se desespera:
Tá, mas e o convite? Aceita ir?
- De sair um dia desses? Claro. Com todo o prazer. Faz tempo que eu e meu namorado não saímos e ele está bem entediado, só em casa comendo e transando comigo, sabe como é né?
- Sei perfeitamente (coração partido e esfacelado), mulher que fica em casa acaba ficando meio balofa, não é verdade, amiga? (sorriso maroto)
- Aí amigo, eu te adoro, viu?
- Que nada, você que é tudo de bom.
Doce, doce...
Quando a coisa dá certo geralmente a pessoa que foi assediada desabafa:
- Era a coisa que eu mais queria na vida.
Se era a coisa que mais se queria na vida, por que passar tanto tempo sem nem ao menos tentar algo, só esperando algo acontecer?
Será que passamos boa parte da existência guardando herméticamente o que mais queremos na vida?


sábado, 2 de janeiro de 2010

A dança do acasalamento -parte 1

Ah, o jogo da sedução. Evento sempre fascinante. As regras são claríssimas, ao menos parecem ser. Antes de se aproximar você tem que expressar um amor superlativo e dedicação máxima para o seu alvo de investimento. Ela é a mais linda, inteligente e sensacional. Tudo exagerado desse jeito, para você descobrir mais adiante que foi apenas mais uma atitude exagerada sua e que você nunca aprende a ver as coisas como elas são. Na questão da aproximação, receber uma negativa corresponde à morte imediata. De repente a morte pode ser mais amena que uma rejeição, vai saber.
Os lábios começam a tremer, embrulhando as palavras, como um empacotador de supermercados inexperiente, geralmente aplicando a tática mais usual, nos casos de encontro em locais públicos:
- Hum, vamos dar uma volta? Se a menina em questão fosse uma pessoa que desejasse desestabilizar o nosso guerreiro diria:
- Para que dar uma volta? A gente vai chegar ao mesmo lugar em que estamos, e não há nada para se ver aqui. Mas geralmente essa fase é mais tranqüila. Ela só pergunta:
- Por que?
- Porra, não vê que eu quero te beijar sua tonta? Três horas prestando atenção, conversando elogiando, pagando coisas só pra você. É pedir demais? Na vida real ele apenas diz:
- É bom dar uma volta para pegar um pouco de ar puro.
Ar puro é patético, mas continua sendo uma das únicas alternativas socialmente viáveis nessas situações. No caminho da volta ele se ensaia:
- Então, sei lá, assim...essas palavras indicam algum pedido que a pessoa tem vergonha de fazer, mas mesmo assim insiste em tentar. Para complicar, a menina, que de boba não tem nada ainda provoca:
- O que houve? Tu está tão estranho? Como se não soubesse da fissura do coitado.
Então o cara pensa:
- Bom , que se fôda, eu tô aqui e é agora ou nunca. Ele respira fundo, toma fôlego, balbucia algumas palavras, que nem ele nem ela entenderão o sentido exato, e parte pra cima. Feito. Missão cumprida.
Depois de quatro horas, uma fome danada, vontade de ir ao banheiro, o beijo acontece. Pensamentos fervilham, agora é hora de puxar papo para encobrir o mal estar causado. Pensa, pensa em algo:
- Pô, tu viu aquele vídeo no you tube? É muito tri.
- Tu viu o perfil da Nandinha no Orkut? Que viagem!
Não pode ser algo muito profundo. Atenção! A profundidade geralmente afunda essas aproximações iniciais, por mais profunda que a pessoa seja. Vai entender...
A cena se repete com os casais que acabaram de se beijar: ele dá um sorriso largo de alívio e ela fica sem graça, com cor de vinho de tinto, porém com coragem e cara de pau para questionar o intrépido galã:
- Por que tu demoraste tanto pra me pedir um beijo? Pensei que nem estivesse afim ...
Nós merecemos mesmo.