sábado, 14 de maio de 2016

O risco de sermos "tão afetivos"



Historicamente, os latinos são famosos por terem intensa afetividade. Entretanto essa fama pode acarretar conseqüências desastrosas para nossas relações com o outro no cotidiano.

Existe o discurso, que se mantém vigente, de que devemos seguir nossas inclinações afetivas, “fazer o que o coração manda”.

Vamos, a duras penas, aprendendo que nossa existência é composta por situações que nem sempre estão em consonância com os nossos desejos e afetos. A tolerância, conceito chave para a vida em sociedade, expressa isso. A capacidade de respeitar qualquer pessoa, mesmo em dissonância afetiva ou cognitiva. Validar o outro mesmo que eu não goste ou discorde radicalmente.

Atualmente temos extremas dificuldades nesse aspecto. Para vivermos coletivamente esse requisito é fundamental. Boa parte das pessoas pode não me alegrar ou confirmar meus pontos de vista, mas precisamos minimamente ter em mente que a sua existência no mundo é tão válida e legítima quanto a nossa.

Não discutimos religião, sexualidade e outros assuntos complexos porque não temos ainda essa capacidade desenvolvida.

Estamos tão frágeis atualmente que ter apenas a nossa opinião não basta, precisamos eliminar ideias contrárias ou buscar freneticamente adesões. Além disso, temos pouca crítica sobre os nossos emoções e opiniões afetivas. Elas simplesmente, na maioria das vezes, são válidas apenas por serem de nossa propriedade.

Com o tempo, vamos vendo que os afetos nem sempre vão nos levar para os melhores caminhos, bem como a percepção de que nossas posições podem mudar radicalmente, dependendo da nossa disposição emocional momentânea. O afeto não pode corresponder ao conceito de verdade, pois se o afeto muda constantemente, não existe uma verdade em si, imutável e perene. Não estou de forma alguma dizendo que a emoção é irrelevante, porém acho que ela não deveria ser soberana nas nossas escolhas.

E ainda mais um desafio, num estágio superior, será que não teríamos algo a aprender com aqueles que nos contrariam ou nos afetam negativamente?


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