Historicamente, os latinos são famosos por terem intensa
afetividade. Entretanto essa fama pode acarretar conseqüências desastrosas para nossas
relações com o outro no cotidiano.
Existe o discurso, que se mantém vigente, de que devemos
seguir nossas inclinações afetivas, “fazer o que o coração manda”.
Vamos, a duras penas, aprendendo que nossa existência é
composta por situações que nem sempre estão em consonância com os nossos
desejos e afetos. A tolerância, conceito chave para a vida em sociedade,
expressa isso. A capacidade de respeitar qualquer pessoa, mesmo em dissonância
afetiva ou cognitiva. Validar o outro mesmo que eu não goste ou discorde
radicalmente.
Atualmente temos extremas dificuldades nesse aspecto. Para
vivermos coletivamente esse requisito é fundamental. Boa parte das pessoas pode
não me alegrar ou confirmar meus pontos de vista, mas precisamos minimamente
ter em mente que a sua existência no mundo é tão válida e legítima quanto a
nossa.
Não discutimos religião, sexualidade e outros assuntos
complexos porque não temos ainda essa capacidade desenvolvida.
Estamos tão frágeis atualmente que ter apenas a nossa
opinião não basta, precisamos eliminar ideias contrárias ou buscar freneticamente
adesões. Além disso, temos pouca crítica sobre os nossos emoções e opiniões
afetivas. Elas simplesmente, na maioria das vezes, são válidas apenas por serem
de nossa propriedade.
Com o tempo, vamos vendo que os afetos nem sempre vão nos
levar para os melhores caminhos, bem como a percepção de que nossas posições
podem mudar radicalmente, dependendo da nossa disposição emocional momentânea.
O afeto não pode corresponder ao conceito de verdade, pois se o afeto muda
constantemente, não existe uma verdade em si, imutável e perene. Não estou de
forma alguma dizendo que a emoção é irrelevante, porém acho que ela não deveria
ser soberana nas nossas escolhas.
E ainda mais um desafio, num estágio superior, será que não
teríamos algo a aprender com aqueles que nos contrariam ou nos afetam
negativamente?
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