domingo, 9 de outubro de 2011

Profissão psicólogo

Um dos ofícios mais estranhos e controversos do universo laborativo é o do psicólogo(a) . O que ele faz? Como ele deve ser? Onde deve atuar?Realmente é um fazer de difícil definição. Essa flexibilidade potencial causa prazeres e também dificuldades aos que escolhem a profissão. Como vamos aprendendo na faculdade, tudo ( ou quase tudo) é passível de discussão e problematização.

Por exemplo: o quanto um psicólogo deve estar preparado para atender as pessoas. Muitos defendem que o psicólogo deve (tem como?) ser uma pessoa superior, neutra e preparada para resolver com tranqüilidade e facilidade os dilemas humanos. Teria que estar pronto e ter suporte emocional para suportar os conflitos existenciais. Quanto menos se afetar melhor, conseguirá mais facilmente olhar com parcimônia e equilíbrio a questão que o outro lhe traz. Um psicólogo vai sendo treinado para não dar opinião, mas trazer elementos que facilitem e enriqueçam a opinião da pessoa e/ ou o coletivo atendido. Mas será que é possível não ter opinião, não se deixar tocar? Essa é uma proposição complexa. Porque um profissional que não consegue silenciar-se provavelmente não terá espaço para acolher outros conteúdos. Mas silenciar, é importante frisar, ao meu ver, significa deixar em segundo plano, não simplesmente eliminar e excluir. Um profissional que trabalha com a mente precisa saber que tudo que for excluído não será de fato excluído, as coisas que sentimos não acabam, se transformam. A neutralidade, por exemplo. A opção por ser um espelho, um mero reflexo que ajuda ao outro se encontrar é mera ilusão. Isso porque é impossível não termos cor, não termos uma posição. A dificuldade que alguns ingênuos tem é de visualizar o que de fato estão fazendo. Quando apresento o nada para a pessoa, não estou deixando espaço para a relação acontecer. Estou manifestando conscientemente um vazio para a pessoa, uma falta, mas por outro lado estou me eximindo e ao mesmo tempo estou me posicionando. Afinal, não fazer nada é uma ação. Não falar nada é uma poderosa mensagem. O profissional pode buscar não ocupar grande espaço e isso pode ser benéfico, mas nunca deve se esquecer de que precisa estar presente, necessita ocupar um lugar. Quer dizer, não fazer nada deve ser uma opção e não uma proibição. Entender isso é muito importante, e penso que é uma reflexão que nunca irá se esvaziar no dia-a-dia da profissão.

Mas o grande fato que observo é a conseqüência dos enunciados pedagógicos na prática da psicologia. Somos ensinados a analisar e trabalhar com o outro. Isso, claro, é um sintoma social amplo. Nossa educação não privilegia o interno, precisamos descobrir o outro e algum outro nos descobrirá. Não quer dizer que devemos ser onipotentes e completos, que não precisamos do outro para nos construir. Porém é fundamental ter noção de que somos responsáveis e que algumas descobertas serão apenas percebidas por nós.

Em outras palavras: somos treinados para olhar para fora, e não olhar para dentro. Isso gera vários danos. A vida de muitos profissionais vai evoluindo, mas sua satisfação e prazer de viver vão diminuindo em medida inversamente proporcional. Quanto mais auxílio a evolução alheia, menos me dou conta do meu próprio desenvolvimento.

Portanto se você escolheu essa tarefa cuide-se, escute-se e lembre-se de que é preciso ser algo, afinal o nada sempre será algo.

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