domingo, 12 de dezembro de 2010

Individualismo, será ?

Os pensadores do contemporâneo afirmam que vivemos numa sociedade individualista e narcisista. Que somos guiados para a realização de desejos egocentrados e nada além disso. Será mesmo?

Penso bem ao contrário. Porém quem não percebe as sutilezas, realmente se equivoca ao interpretar o que estamos vivendo.

A publicidade e o mercado enviam mensagens de auto-realização, dizem que precisamos ser nós mesmos, temos que correr atrás dos nossos sonhos e viver o ápice do ‘eu tenho, eu sou, eu faço, eu brilho’.

Mas essa é a questão. Para chegar 'nisso' você precisa usar tal roupa, comprar tal produto, adquirir uma atitude, consumir algo.

Essa é a grande estratégia, as pessoas são orientadas para serem iguais, mas com a ilusão de que estão sendo diferentes, exóticas e singulares. A exclusividade está apenas na teoria, para parecer mais aderente e atraente. Concretamente somos clones uns dos outros. Os jovens estão mais expostos a esse processo. Buscam a igualdade, evitando a exclusão, porque é isso que acontece com quem destoa da coletividade.

Nossa sociedade e nossa criação não favorecem os diferentes. Pune quem questiona e investe sua energia em algo criativo e inovador. Claro que depois de algum tempo a invenção se torna aceitável e aquela pessoa se torna ícone de uma geração, mas só depois de ter sofrido muito com o peso de não ser banal.

Os universitários enchem a boca e falam do narcisismo, que somos egoístas e só pensamos no nosso umbigo. Quem dera! Seria ótimo se as pessoas fossem elas mesmas e pensassem em si primeiro. E seria ainda melhor se a sociedade encorajasse os sujeitos a adotarem atitudes espontâneas e coerentes com o que pensam e sentem.

Garanto a você que a sociedade seria mais pacífica e menos agressiva. Cada um respeitaria o ponto de vista de outro porque se teria a consciência de que a diferença de fato existe. Não almejaríamos participar de programas televisivos, ganhar fortunas e ter a vida dos famosos e milionários. Teríamos certeza de que estamos no lugar certo com as pessoas certas.

Essa é a uma das grandes frustrações atuais. A maioria pensa que deveria ter mais dinheiro, que deveria estar em um lugar social que ainda não está ocupando. Milhares descontentes com quem são e com o que tem. Por que eu não namoro aquela atriz famosa? Por que não tenho um carro de última geração? Por que não tenho tal rosto? Preste atenção que esse desejo de ser especial é predominantemente externo. E com uma conotação de triunfo sobre o outro. Ser mais que o outro. Quando vamos perceber que somos iguais em valor e que é impossível ser superior a alguém? Queremos ser diferentes de uma maneira perversa e distorcida. Não queremos acrescentar algo ao mundo com o nosso tempêro, queremos anular quem somos de verdade para quem sabe virmos a ser uma pessoa que possa mais que o restante.

Não é por acaso que a vida levada com esses valores é um passo rápido para a depressão e o vazio. Desespero, pânico e medo. Abre-se mão de quem se é e não se alcança o que se quer. Porque o caminho convencionalmente oferecido é para poucos, talvez para nenhum. Mas a gente segue desperdiçando nossos tesouros, aquilo que é nosso e que verdadeiramente nos fará vencedores. Porém vencedores de um jogo sem adversários. Uma batalha onde lutamos para dar o melhor de nós mesmos.

Ah, antes que alguém pense que eu estou falando dos outros. Nem pensar, falo daquilo que enxergo em mim. Faça o mesmo, para variar.

Um comentário:

  1. Cara, um belo texto! Instigante; uma reflexão muito pertinente mesmo. E é bem por aí, essa questão de estar sempre se comparando e querendo ser mais do que o outro, estar em evidência. Mal sabemos nós que, assim, só despejamos nossa energia para fora de forma improdutiva. Não fazemos as coisas para o crescimento pessoal, a auto-realização. Quanto mais poder damos aos outros, menos nos sobra. Aliás, isto me remete ao Tao, no que diz respeito a auto-consciência e a vigilância. Dois princípios básicos para se chegar ao poder pessoal...

    Abraço!

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