segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A dança do acasalamento- parte final

Quando se está apaixonado e o seu alvo não percebe isso, a cabeça do apaixonado começa a girar em torno de como e quando esse sentimento deve ser anunciado. Com a escassez de tempo da época contemporânea, fica cada vez mais difícil encontrar uma brecha romântica para desovar os afetos guardados.
Imagine só, você chega de manhã, a pessoa lhe cumprimenta e você, sutilmente:
- Você é tudo pra mim! (tom apaixonado)
A amada, que nem acordou ainda, responde:
- O que foi? Tô com sono. Nem ouvi direito o que tu falaste.
- Falei que hoje ta bem abafado, calor do cão... (depois da resposta dela não deixa de ser verdade essa frase).
Ou então no almoço, enquanto comem aquele xis gordurento, você lá pelas tantas:
- Tu estás linda! Ela, ainda mastigando o monstro alimentar, diz:
- Tu sabe que hoje eu estou me achando uma baranga gorda?
Bééé! Tente outra vez!
Na aula ou no trabalho é melhor ainda. Ela está em apuros e pede cola, logo a ideia surge e você escreve no papel:
- A resposta é que estou vidrado em você. Ela devolve o papel, incisiva:
- Deixa de ser engraçadinho e me dá logo a resposta.
Vocês estão se despedindo de um dia duro e cansativo, a última chance é agora:
- Hum, ô guria , tá afim de sair qualquer dia desses?
Antes da resposta toca o telefone, ela atende com toda calma, é a amiga de longa data:
- E aí sua cadela! Que saudade de ti, blá, blá, blá...
Nesse momento o cara se sente tão ansioso, mas tão ansioso, que se sente como se estivesse esperando Deus dar o sinal positivo para sua entrada triunfante no céu.
Ele, com a cabeça virada e muito indignado, espera o diálogo vital para a o seu mundo, dando aquele riso estilo “quero te enganar, sua fazida, mas estou tendo que engolir tudo isso que estou pensando nesse momento”.
Ela desliga o telefone, fala que está atrasada e tem que ir. Ele se desespera:
Tá, mas e o convite? Aceita ir?
- De sair um dia desses? Claro. Com todo o prazer. Faz tempo que eu e meu namorado não saímos e ele está bem entediado, só em casa comendo e transando comigo, sabe como é né?
- Sei perfeitamente (coração partido e esfacelado), mulher que fica em casa acaba ficando meio balofa, não é verdade, amiga? (sorriso maroto)
- Aí amigo, eu te adoro, viu?
- Que nada, você que é tudo de bom.
Doce, doce...
Quando a coisa dá certo geralmente a pessoa que foi assediada desabafa:
- Era a coisa que eu mais queria na vida.
Se era a coisa que mais se queria na vida, por que passar tanto tempo sem nem ao menos tentar algo, só esperando algo acontecer?
Será que passamos boa parte da existência guardando herméticamente o que mais queremos na vida?


Um comentário:

  1. Tua resposta: http://discipuladoocio.blogspot.com/2010/01/e-o-primeiro-beijo.html
    Beijinhos!

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