sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Soul Sol


Não me sinto só
Um dia fui pó
Hoje só sou
Apenas soul
Sol



(Giordano 2015)

sexta-feira, 28 de março de 2014

Canibais discretas


Mulheres apaixonadas
São canibais discretas
Distraem a presa
Avançam de surpresa
Com volúpia magnética

terça-feira, 4 de março de 2014

O triunfo do medíocres


No ambiente de trabalho vamos fazendo tarefas e naturalmente alguns se destacam, pelo empenho, talento e facilidade. Ter o trabalho reconhecido é algo almejado por muitos. Poucos realmente se destacam, até porque uma pequena parcela busca executar seus afazeres de forma comprometida e intensa. No nosso país muitos gostariam de exercer outra função ou estar em outro lugar. Planejam simplesmente estar melhor de vida, vivendo sem se engajar na concretização dessa meta.

Quando o reconhecimento tão esperado vem, uma face sombria desse fenômeno emerge. A coisificação do trabalhador: quando os colegas enxergam somente a sua funcionalidade e desejam incessantemente a sua energia laboral, procurando com frequência  lhe enquadrar naquilo que projetam para você.  Acabam tomando você como mero personagem, com roteiros que são extremamente previsíveis e entediantes. A pessoa é convencida de que a instituição e os colaboradores precisam muito do seu esforço.  Dependendo da sua carência acumulada, isso pode seduzir seu ego e fazer com que você, de fato, acredite nisso, “dando o máximo de si pelo coletivo”. Porém o coletivo, quando moldado pelo institucional, é doentio, um aglomerado de pessoas querendo sobreviver, sustentando um discurso pseudo fraterno, passivo-agressivo para obter a própria salvação. Um individualismo travestido de ideário comunitário.

Por esse prisma, a eficiência torna-se uma prisão. Pode-se acabar desejando o fracasso e o insucesso no decorrer do caminho. Pois aquele que faz bem é sugado pelos outros que também querem fazer bem. Estes, no entanto, recorrem de artifícios que requeiram menos energia para almejar supostamente o mesmo resutado. Querem percorrer o mesmo caminho usando a metade da gasolina. E aqueles que acreditam realmente em trabalho em equipe, em trocas, em relações sem inveja e vaidades circundantes se machucam, acabam ficando desesperançosos, com probabilidade de render até menos que os colegas medíocres. Porque os medianos se alimentam da sensibilidade dos talentosos e com a desunião dos incapazes. Os medíocres prosperam, formam um elo de urubus, coesos e perseverantes.  Mas é possível conscientizar-se e quem sabe esboçar um voo bonito entre o lixo e a carniça que se colocam no caminho a cada dia.
Lembrança: quem nunca fez trabalho em grupo na escola e teve sua capacidade sugada pelos coleguinhas, que não fizeram nada e levaram a mesma nota que você?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Carga, cargo ou serviço público?


Por mais contraditório que pareça, um dos sonhos da sociedade pós-moderna (líquida) é adquirir solidez laboral, por meio da aquisição de uma vaga em um serviço vinculado ao poder público. Essa aspiração na verdade indica, atualmente, que muitos querem somente as vantagens do funcionalismo público, sem necessariamente engajar-se e deter-se na sua essencial missão: servir ao público.

 Essa confusão motivacional é a raíz de muitos sofrimentos dos chamados “funcionários públicos”.
Quando se trabalha a partir de demandas coletivas, o fazer diário exige o surgimento de um sentimento empático, que se antes não desenvolvido, em vivências íntimas, pode acarretar em desastres cotidianos contínuos. Quem usa de um cargo público para satisfazer anseios pessoais e dar as costas para o objeto central de sua tarefa, corre o risco de perder completamente o sentido daquilo que empreende no dia-a-dia.

A dureza das profissões públicas se acentua justamente porque, se o desejo de entrega à alteridade não desabrocha, o servidor fica petrificado e é capturado pelos tentáculos das exigências burocráticas que permeiam suas tarefas. Sem a dimensão subjetiva da pessoa que estamos atendendo, a relação acaba se coisificando, almas tornam-se números e protocolos, ficam destituídos de história e marca própria. Quando não nos envolvemos com esse “público”, julgamos ser perseguidos e engolfados por uma massa amorfa e voraz. Um bando de pessoas que querem meu sangue, que me cansam e fazem meu corpo ficar sem nenhuma energia ao final do dia. E esse meu cansaço não traz nenhuma lembrança de que construí algo, fico com a impressão de que apenas aguentei as pressões inerentes ao meu cargo, que transforma-se, então, em carga pública.   

Isso se dá também pela concepção distorcida que temos da esfera pública, que não privilegia o diálogo e as trocas simbólicas. Ou imponho goela abaixo minhas vontades ou então os “outros” me patrolam com suas marcas identitárias. E esse movimento polarizado gera a alternância de: uma multidão indomável e selvagem que atropela o trabalhador ou um servidor algoz, que, revestido indevidamente do poder público, diz ao cidadão que ele não merece ser cuidado pelas instituições. Geralmente esse servidor também se vê abandonado pelo poder que o sustenta nesse cargo. Reproduz o descuido, por achar que possa ser menos doloroso fazer o trivial. Entretanto, não compreende como sua angústia não pára de crescer.

Servidor que se nega a servir sofre demais. A estabilidade financeira não compensa o descontrole emocional e funcional, pois com essa postura pouco receptiva sempre se processará uma fuga frustrada da tarefa, que por sua própria construção, se torna um fardo quase impossível de executar.

Quando as pessoas têm brilho e nos afetam, o serviço público torna-se extremamente gratificante, pois nos permite experienciar de forma viva a efervescência coletiva, nos trazendo a dimensão de que podemos mudar realidades através das nossas práticas. Podemos inscrever em nossas subjetividades a ideia de que é possível alterar situações de miséria e opressão vividas diariamente, melhorando a vida das comunidades. De alguma forma nos conectamos com algo maior que nós, e isso nos causa um profundo bem estar.

Parabéns aos servidores que conseguiram, em algum momento, alcançar essa dimensão em suas ações. E aos que não a encontraram...redirecionem suas intenções nesse papel ou busquem outro tipo de atuação, para não adoecerem ainda mais.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Brilho desenfreado


Estamos inseridos em um meio social onde vários almejam ter destaque, reconhecimento e admiração pelo que fazem. Não vou te dizer que também não tenho esse anseio. Porém penso que o caminho que alguns trilham rumo a esse desejo é doentio e conduz a pessoa inevitávelmente ao enlouquecimemento. Isso porque as pessoas começam a se forjar a partir da opinião externa e para agradar “aquele que não sou eu”.  Poucas famílias incentivam seus filhos para seguirem sua própria experiência, possuem fetiches costumeiros na criação de seres únicos, que vão ser os melhores, invencíveis, unanimidades. Muitas vezes desconectados do que sentem de fato.
Seus talentos só são válidos quando aplicados da maneira pregada pelo poder estabelecido. Milhares mudam o que são durante o caminho, muitos passam pela vida sem conseguir ingerir um mísero gole da sua própria essência. Só que mudando o que somos, a nossa energia vai se enfraquecendo, vamos perdendo o frescor da vida, vamos deixando de levar a existência com criatividade. Aquela luz interna torna-se um brilho desenfreado e sem sentido, que ofusca a consciência e o faz fantoche das circunstâncias. E é engraçado ver, tão poucos se movem a partir do seu centro, a maioria circula em torno do movimento do outro, dos outros. Poucos seguem sua intuição, fazem algo para vibrarem internamente. Procuram sensações que no fim não terão intensidade, perdem o vigor depois de tanta repressão criativa.
Como vislumbram o dinheiro...esquecem daquilo que lhes provoca, lhes proporciona tesão e inspiração de fato. Nem cogitam em reverter essa troca. Pensam que podem viver seus desejos sinceros em intervalos da rotina que não almejaram, todavia, perseguindo burramente metas que tanto sonham. Na verdade correm atrás de uma ilusão. Negam aquilo que está mais perto de si, as coisas mais valiosas que não se anunciam, que permanecem silenciosas, esperando nossa percepção para serem redescobertas.
Querem o grito, mas não aceitam a roquidão, fascinam-se com o excesso, porém apavoram-se ao vivenciá-lo. Querem muito vivendo tão pouco, mas um dia o “muito” chega, quem sabe...
Um dia eles serão fantásticos, viverão coisas dignas de serem relatadas em um livro com tiragem inigualável, terão vivido e encontrado pessoas sensacionais, com prestígio sem igual. Mostrarão que a solidão é uma fraqueza, que é impossível ser feliz sozinho, que o outro é nossa bengala mágica. Somos uma ilha que insiste em ser o mar que nos rodeia.
Assim se vive, negando o que nos faz viver, buscando ondas que nos perturbam e nos dissociam, provocando afastamento inexorável da seiva que escorre a cada minuto, e que depositamos no lixo simbólico retroalimentado por nós mesmos.
É desse jeito que nos cultivamos, cortando as nossas raízes e colocando adornos passageiros, que se despedem facilmente frente a qualquer vento que seja mais forte. Com essa experiência você fica nu, mas nunca chegará ao êxtase da transparência. Será condenado a perambular como um espelho por aí. Acho que você chegou onde tanto queria.  

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Religiões Mortas


Muitas religiões (principalmente a católica) pregam que o mundo material não possui valor algum e que nós seremos felizes de verdade apenas no céu. Bom, mas o que estamos fazendo aqui então?
A eterna promessa de que após a morte a vida será justificada e nossa alma salva cria um repertório de ações e pensamentos que são altamente intoxicantes à existência humana. Uma das mais marcantes é a crença de que estamos aqui para penar, apenas agüentar, segurar firme, para mostrarmos, de maneira orgulhosa, que somos fortes e sofredores profissionais.
Outra é de que os prazeres materiais não podem ser desfrutados. Pensem um pouco: se Deus criou o mundo, por que ele criou coisas prazerosas e que trazem bem estar? Por que então não fruir daquilo que nos é oferecido? Ok, ficar centrado apenas nisso não é muito recomendável, mas negar totalmente?
Observem como somos e notem como esses pensamentos comandam boa parte das nossas ações. Olhem nosso pudor, como ficamos constrangidos em demonstrar alegria e entusiasmo socialmente. É muito mais fácil e confortável chorar um rio lágrimas, onde sempre se terá uma companhia velando fervorosamente nosso pranto. Esbanje otimismo e constate onde se irá chegar nessa sociedade.
Um aspecto gravíssimo da influência das religiões no ser humano envolve a percepção de que a morte é mais desejável que a vida. Muitas cartas suicidas expõem explicitamente, através de frases como:“agora vou ficar aliviado, chega desse sofrimento”, “vou estar em paz”, “ agora vou ser feliz de verdade”.
           Vemos que essas religiões produzem pessoas que vão vivendo tal qual zumbis, sem colocar sentido e prazer na vida, esperando com peso e pesar a hora de terminar a jornada vital.
Claro que essa atitude é bastante útil para se manipular as massas e construir promessas coletivas que enganam a população e que buscam colocar o ser humano em um buraco mais fundo do que já está. Seja através da mídia, do governo ou das próprias igrejas.
Vejam os rituais, são muitos raros os que almejam a alegria e a celebração. A espiritualidade tem um fardo, entrar em um universo material é sempre revestido de dor e comiseração.
Os encontros religiosos são encontros de sofredores, cada um tentando demonstrar o quanto sua dor é superior e buscando medir quem é o mais merecedor do perdão divino e da ascensão ao céu.
Não digo que não existem pessoas que usam essas religiões de forma criativa e positiva. Mas é notório e certo que foram construídas ao longo do tempo mais para chorar do que para sorrir.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O homem escondido

Todos desejam a mulher no mundo contemporâneo. Receptiva, compreensiva, macia, suave, intuitiva, piedosa, linda, poderosa, glamurosa... Quem seria louco de não querer também, né? O que sobre para o homem de hoje? Agressivo, manipulador, inconsciente, intolerante, infantil e desordeiro.

É assim que nos vemos atualmente. A mulher de hoje é arrojada, sabe tudo, tem iniciativa, trabalha, cozinha e cuida dos filhos, como as revistas não cansam de panfletear.

Ser homem atualmente é um quase um desaforo. Não é à toa que estamos (nós, homens) nos tornando femininos, além de continuarmos desejando as mulheres. As características ditas masculinas são tachadas como inferiores e como compensação acabamos vivendo-as de forma inferior também.

Não se trata de depreciar a mulher, e sim de colocar o homem no mesmo patamar de julgamento. É claro que não se pode ignorar a opressão que a mulher sofreu durante toda a história, mas isso não é justificativa para se vingar ou causar a mesma opressão que foi impingida.

Uma das frases que mais me fascina é essa: “as mulheres estão masculinizadas”. A pessoa, que diz essa frase, quer passar a noção de que a mulher está sendo tão miserável e escrota como o homem. Está traindo como um homem, fazendo sexo como um homem. Mas peraí, então a mulher não sente isso autenticamente, ela copia simplesmente o que o homem faz? Ela escraviza e domina porque se identifica com o homem? Isso que é realmente interessante, o que a mulher faz de admirável é feminino, e o que faz de deplorável é masculino.

A mulher hoje é divina e especial, o homem faz guerras e destrói o mundo. É o mesmo que dizer que o homem é fofoqueiro porque está imitando as mulheres. O homem é fofoqueiro da mesma forma que a mulher pode ser capaz de fazer guerras. Na verdade o homem está cada vez mais agressivo porque está castrado, não consegue mais expressar seus instintos e sua animalidade de uma forma natural. É um homem escondido, asfixiado, que quando liberto provoca uma catarse incontrolável e muitas vezes nociva.

Homem e mulher possuem defeitos e virtudes aleatórios, não é demérito ter nascido homem e nem uma benção ter vindo mulher ao mundo. Cada um é divino e diabólico à sua maneira.