domingo, 4 de outubro de 2009

Vício

Vício. Impossível pensar nesse tema sem se incluir na história. Geralmente esse termo carrega uma noção pejorativa, indicando uma dependência que temos em relação a algum comportamento ou coisa. E o valor ou demérito desse vício é mensurado pela sociedade. Outro fator que torna a questão do vício complexa é o hábito. Até que ponto estamos habituados ou viciados em algo. E será isso tem alguma diferença?
O viciado é visto sempre como um errante, alguém que não se controla e cede à tentação de algo, que costuma gerar prazer. Só que nesse julgamento está um valor imposto pelas normas sociais. Alguém viciado em ajudar os outros ou trabalhar nunca será taxado de viciado, porque isso traz benefícios para a sociedade. Não se discute o quanto a pessoa é dependente desses atos, e sim se aquele vício é bom ou não. Um funcionário que é pego com drogas é expulso do trabalho e aquele que esquece de si mesmo e das suas relações pessoais vira o funcionário do mês. O lucro, o cifrão ($), que dita se um vício é aceitável ou nos traz repulsa.
O vício traz consigo uma vontade de não se sentir, evitar contato com algo que cutuca, incomoda, o chamado vazio existencial. Aderimos ao vício para esquecer, mas esquecer o quê? O mundo atual não é muito doce para ser lembrado com grande consciência. Sobre esse prisma, o caos que estamos vivendo é, com certeza, um convite para o esquecimento e para o vício.
Não é à toa que observamos todos se repetindo, poucos ousando, pois o vício é seguro. Em certo ponto não importa mais o prazer que o vício dá e sim a segurança que ele nos prorporciona. Estar imerso em um vício é dizer para si que o mundo será sempre igual, que no final tudo estará bem. E sinceramente, não venha me dizer que ninguém precisa um consolo como este, vivendo em um mundo tão desesperador como o nosso.
O vício, no começo, por mais contraditório que possa parecer, pode ser criativo. Iniciar em um vício pode significar uma necessidade de entrar em um mundo de sensações diferentes do cotidiano. Provocar um choque diante mesmice que se vive. Se enxergar de uma nova forma. Um vício diz com acuidade como queremos ser vistos e as feridas que carregamos em nós.
O equívoco está em tentar repetir aquela sensação nova travestida com algo que com o passar do tempo também se tornará habitual. Outro chamado que o vício faz é de transcender, superar nosso corpo, superar nossos medos e vislumbrar algo que nos oriente e nos dê sentido. Mesmo que isso não seja feita de uma maneira saudável, ainda assim é um chamado.
Eis questão central: qual é o chamado que um vício nos faz? O que ele diz de nós? Qual sua mensagem? Isso é fundamental para superá-lo, se assim quisermos. Além disso, é necessário vivenciar a experiência de uma forma intensa e atenta. Quanto mais fundo mergulharmos na vivência de um vício, mais rápido descobrimos porque estamos tão atrelados a ele e, num piscar de olhos, ele já não é necessário, porque já vimos tudo o que havia para ser visto nele. E pulamos para outro... e continuamos nossas vidas por aqui, nessa jornada tão estranha e viciante.

2 comentários:

  1. Entrar nesse teu blog é quase um vício... E difícil de largar, pois ele se renova a cada semana. Talvez a sensação que desperte às vezes se repita: a desconstrução de uma intenção que já houvesse sido consolidada, a necessidade de discutir algo ou ainda a satisfação de compartilhar uma idéia. Mas o assunto nos dá essa ideia de mudança.
    Parabéns, garoto!
    Beijinhos!

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  2. Acho que estou ficando viciada.... em espiar o veneno da ousadia.
    Admito: é um vício gostoso. Não quero largar!! Bjooosss

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